Rio de Janeiro / RJ - domingo, 22 de junho de 2025

TIREÓIDE

TIREÓIDE

Glândula Tireóide

   A tireóide ou tiróide é uma glândula do corpo humano, em forma de borboleta (com dois lobos), que fica localizada na parte anterior pescoço, logo abaixo da região conhecida como Pomo de Adão ("gogó"), que é uma cartilagem da laringe. Toda vez que ocorre o movimento de deglutição, a tireóide se movimenta para cima e para baixo junto com a laringe. Comparada a outros órgãos do corpo humano é relativamente pequena.

  Ela age na função de órgãos importantes como o coração, cérebro, fígado e rins. Interfere, também, no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes; na regulação dos ciclos menstruais; na fertilidade; no peso; na memória; na concentração; no humor; e no controle emocional. 

   É fundamental estar em perfeito estado de funcionamento para garantir o equilíbrio e a harmonia do organismo. 


Hipotireoidismo

   Se a produção de hormônios tireoidianos é insuficiente provoca hipotireoidismo. Tudo começa a funcionar mais lentamente no corpo: o coração bate mais devagar, o intestino prende e o crescimento pode ficar comprometido. Ocorrem, também, diminuição da capacidade de memória; cansaço excessivo; dores musculares e articulares; sonolência; pele seca; ganho de peso; aumento nos níveis de colesterol no sangue; e até depressão.  Lembre-se, os sintomas do hipotireoidismo não são específicos da doença e podem se apresentar por outros motivos. Cabe ao medico avaliar cada um de seus sintomas e interpretar se são decorrentes da falta do hormônio ou não.

   O diagnóstico de hipotireoidismo é confirmado laboratorialmente através da dosagem do TSH no sangue do paciente. A dosagem ultra-sensível de TSH possibilita avaliar precocemente se a produção de hormônios pela tireóide é insuficiente para o organismo. Valores acima do limite superior da normalidade são considerados de hipotireoidismo.


   A causa mais comum de hipotireoidismo é a Tireoidite de Hashimoto, uma doença em que o organismo produz anticorpos contra a própria glândula tireóide, levando a uma redução de sua função e conseqüente diminuição da produção de hormônios. Os  tratamentos da glândula tireóide como a cirurgia  de tireoidectomia, o Iodo radioativo ou radioterapia cervical  podem também levar ao hipotireoidismo. Outras causas: o hipotireoidismo congênito, uso de alguns medicamentos e o excesso de ingestão de Iodo na dieta.


Hipertireoidismo

 Se há produção de hormônios tireoidianos em excesso acontece o contrário, o hipertireoidismo. Nesse caso, tudo no nosso corpo começa a funcionar rápido demais: o coração dispara; o intestino solta; a pessoa fica agitada; fala demais; gesticula muito; dorme pouco, pois se sente com muita energia, mas também muito cansada.


   A principal causa de hipertireoidismo é a Doença de Graves, uma patologia relativamente comum (2% das mulheres e 0,2% dos homens) que acomete a tireóide. Ela geralmente ocorre em mulheres em idade reprodutiva em que há produção de anticorpos que atacam a glândula simulando o hormônio TSH, um estimulador do funcionamento da  tireóide. Esta é a causa de 3 em cada 4 casos de hipertireoidismo. 

         

  Há também o bócio nodular tóxico, que apresenta nódulos tireoidianos (único ou múltiplos)  que produzem hormônios independentemente do controle do organismo (nódulos quentes). Esta doença  geralmente acomete pacientes mais idosos, mas pode ocorrer em todas as idades


   Os tratamentos disponíveis para a doença de Graves são:

- Drogas antireoidianas: medicamentos como Propiltiuracil e Metimazol são utilizados para o controle do hipertireoidismo, pois atuam na glândula diminuindo a produção hormonal . Este é o tratamento inicial e o objetiva  que o paciente apresente remissão da doença com o tratamento

- Terapia com Iodo radioativo: é administrada uma pequena dose de Iodo radioativo que provoca uma reação de lesão celular tireoidiana levando a diminuição do hipertireoidismo. É o método de escolha nos Estados Unidos.
- Cirurgia: é um método extremamente eficiente de resolução do hipertireoidismo, porém é cada vez menos usado. Tem espaço nos bócios muito volumosos, na doença de Graves com nódulos e na falha dos tratamentos anteriores


Bócio

   Bócio é definido como um  aumento da glândula tireóide. Este aumento pode ser devido à nódulos, doenças inflamatórias (tireoidites) ou aumento difuso da glândula.  

  A freqüência de bócio multinodular chega a 30% da população mundial. Pode ocorrer tanto no hipo como no hipertireoidismo.Nos bócios multinodulares tóxicos costuma-se indicar o tratamento cirúrgico ou Iodo radioativo. 

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Nódulo Tireoidiano

    Um dos problemas mais frequentes da tireoide são os nódulos, que não apresentam sintomas. Estima-se que 60% da população brasileira tenha nódulos na tireoide em algum momento da vida. O que não significa que sejam malígnos. Apenas 5% dos nódulos são cancerosos.

     O reconhecimento deste nódulo precocemente pode salvar a vida da pessoa e a palpação da tireoide é fundamental para isso. Este exame é simples, fácil de ser feito e pode mudar a história de uma pessoa.


     Uma vez identificado o nódulo, o endocrinologista solicitará uma série de exames complementares para confirmar a presença ou não do câncer.

     Os nódulos de tireóide podem ser únicos ou múltiplos, benignos ou malignos, produtores de hormônio ou não. A grande maioria dos nódulos tireoidianos são benignos e não produzem hormônios. Geralmente a presença dos nódulos não interfere na produção global de hormônios pela glândula, mas alguns nódulos podem produzir hormônios em excesso, independente do controle da hipófise. Devido à presença dos nódulos a glândula pode adquirir grandes dimensões, causando sintomas compressivos cervicais (falta de ar ou dificuldade para engolir). Porém, nem todas as tireóides aumentadas têm nódulos, uma vez que a glândula pode estar difusamente aumentada (em geral devido à deficiência de Iodo ou a doenças auto-imunes). 

   

    As causas dos nódulos da tireóide tem sido amplamente estudadas e debatidas. Os fatores mais claramente relacionados com a formação de nódulos são a carência de Iodo na dieta e o hipotireoidismo (elevação do TSH). Há, sem dúvida, uma maior predisposição de se desenvolver nódulos tireoidianos com o aumento da idade. Alguns estudos mostram que o consumo de Iodo em excesso leva ao aparecimento do bócio, assim como a gravidez aumenta as chances de aparecimento de nódulos. 


  Aproximadamente 10% da população adulta têm nódulos tireoideanos, mas, desse número, cerca de 90% são benignos. Todos os nódulos da tireóide devem ser avaliados para se afastar a possiblidade de serem Câncer de Tireóide.

Câncer de Tireóide

   O câncer de tireóide não é um câncer comum, ele representa 1 a 2% de todos os cânceres. Todavia é o tipo de câncer endócrino mais comum e é um dos poucos tipos de câncer que tem aumentado sua incidência com o tempo. Em parte, este fenômeno é explicado  pelo aumento do diagnostico precoce através de exames de tireóide por outros motivos. Embora seja três vezes mais freqüente em mulheres, a doença afeta também homens. A faixa etária de mais risco é entre 25 e 65 anos. 

    A típica apresentação do câncer de tireóide é paciente feminino de 30 a 50 anos com um nódulo palpável cervical que representa um nódulo tireoidiano ou um linfonodo cervical. A freqüência em mulheres é duas vezes maior que nos homens. Quando o diagnóstico é feito, os nódulos tireoidianos são habitualmente de 1 a 4 centímetros e apresentam metástases linfonodais em um terço, mas raras vezes metástases a distância são encontradas. É pouco freqüente o câncer de tireóide estar causando rouquidão ao ser descoberto.

   A incidência da doença aumentou em 10% na última década, mas sua mortalidade diminuiu. De 65 a 80% dos casos são diagnosticados como câncer de tireóide papilar; de 10 a 15%, são foliculares; de 5 a 10% são medulares e de 3 a 5% dos diagnosticados como anaplásicos

TIPOS DE CÂNCER DE TIREÓIDE

- Carcinoma papilifero - é o mais frequente (75 a 80% dos casos) e normalmente de boa evolução. Pode aparecer em pacientes de qualquer idade, mas é mais freqüente entre 30 e 50 anos. Estima-se que uma a cada mil pessoas tem ou já teve este tipo de câncer. A taxa de cura é alta, chegando a quase 100%.

- Carcinoma folicular - Costuma ocorrer em indivíduos com mais de 40 anos. É mais agressivo do que o papilífero. Em dois terços dos casos, não têm tendência à disseminação. Um tipo de carcinoma folicular mais agressivo é o hurthle, que atinge pessoas com mais de 60 anos.

- Carcinoma medular - Afeta as células parafoliculares, responsáveis pela produção da calcitonia, hormônio que contribui na regulação do nível sanguíneo de cálcio. É de difícil tratamento e, usualmente, se apresenta de moderado a muito agressivo.

- Carcinoma anaplásico - Extremamente raro (1,5% dos casos de câncer de tireóide). É o tipo mais agressivo e tem o tratamento mais difícil. É responsável por dois terços dos óbitos de câncer da tireóide.


Exames de Tireóide

Dosagem de hormônios tireoidianos e TSH: Normalmente são solicitados o TSH e o T4 livre, que serão os hormônios que mais influenciarão nas decisões clínicas. Eles avaliam a função da glândula tireóide sendo que o TSH elevado indica hipotireoidismo e o TSH diminuído indica hipertireoidismo. Em algumas situações são solicitados o T4 total, T3 total e o T3 livre.

Dosagem de anticorpos tireoidianos: São solicitados para avaliar a presença de algumas doenças autoimunes da tireóide como a tireoidite de Hashimoto, a tireoidite subaguda e a Doença de Graves (hipertireoidismo). São eles o anticorpo anti peroxidase (Ac TPO), anticorpo anti-tireoglobulina (AC TG) e Anticorpo anti receptor de TSH (TRAB). 

Ultrasson de tireóide: É extremamente importante para avaliar a presença de nódulos tireoidianos, principalmente os não  palpáveis. Informações como tamanho, localização dentro da glândula e características dos nódulos norteiam a decisões cirúrgicas assim como servem para o acompanhamento clínico dos mesmos. O Doppler associado ao ultrasson fornece informações sobre a vascularização dos nódulos , que podem aumentar as suspeitas de malignidade.  

Biópsia por punção aspirativa com agulha fina (PAAF): Exame fundamental para se tomar a decisão de se realizar a cirurgia de tireóide, pois é o mais sensível para detectar malignidade. O exame consiste em colher células dos nódulos tieoidianos através de uma punção com agulha orientada ou não por ultra-sonografia. Basicamente, os resultados podem ser benignos (bócio colóide, bócio adenomatoso, tireoidite crônica linfocitária, cisto colóide),  malignos  (carcinoma papilífero, carcinoma medular ou anaplásico) ou suspeitos (padrão folicular, padrão folicular com células oncocíticas ou Hürthle, padrão papilífero). Tanto os resultados malignos como os resultados suspeitos normalmente são indicativos de cirurgia por suspeita de ser um câncer de tireóide. Em muitas situações, somente a ressecção e posterior análise anátomo-patológica do nódulo é que vai determinar se o nódulo é de fato maligno ou não.     


Cintilografia de tireóide: É um exame menos solicitado hoje em dia. Ele avalia aspectos funcionais da glândula e costuma classificar  os nódulos em quente, frios ou mornos. Antigamente os nódulos frios eram tidos como suspeitos de câncer. Esta classificação é pouco útil atualmente para avaliar malignidade já que a punção por agulha fina é um exame muito mais sensível e especifico.


Raio X cervical: este exame serve para avaliar se a tireóide esta causando  compressão e desvio das estruturas cervicais como a traquéia. Tireóides de tamanho aumentado podem comprimir a traquéia ou ter crescimentopara o tórax (bócios mergulhantes).


Tomografia Computadorizada e Ressonância Nuclear Magnética: Não são solicitados de rotina. São úteis em bócios volumosos e mergulhantes, e  para avaliar possíveis invasões de estruturas adjacentes em casos de câncer de tireóide avançados. Neste último, é preferido a ressonância nuclear a tomografia pelo fato da primeira não utilizar contraste iodado, o que pode retardar o tratamento com Iodo radiaotivo pós-operatório de cirurgia de câncer de tireoide


Cirurgia da Tireóide

    A cirurgia para a retirada de toda a glândula tireóide ou parte dela, é denominada tireoidectomia. O tipo de cirurgia, ou seja, tireoidectomia total ou parcial, irá depender de diversos fatores que o médico irá discutir com seu paciente. 

   De uma forma geral, a cirurgia de tireóide evolui bem, com raras complicações, mas alguns detalhes devem ser esclarecidos aos pacientes (Ver orientações ao paciente)


PRINCIPAIS RAZÕES PARA REALIZAR TIREOIDECTOMIA


Suspeita de malignidade: Apesar de não ser freqüente, o nódulo de tireóide pode ser um câncer de tireóide. Quando o médico suspeita de malignidade pela palpação dos nódulos tireóidianos ou pelo exame de punção aspirativa por agulha fina (PAAF), somente a cirurgia pode dar a certeza se o nódulo é maligno ou não. 


Compressão cervical, desvio de traquéia ou bócios mergulhantes: Tireóide muito aumentada ou com nódulos que levam a sintomas de compressão de estruturas cervicais, causando dificuldades para engolir e respirar são também motivos que levam a cirurgia. Tireóides que cresceram em direção ao tórax, ou bócios mergulhantes, também devem ser operadas. 


Hipertireoidismo refratário a tratamento clínico:Indica-se tireoidectomia quando o paciente não tolera o tratamento com remédios ou este não está sendo suficientemente eficaz para controlar o hipertireoidismo, principalmente quando a tireóide for muito aumentada ou com nódulos. 

Estético: Embora não seja uma indicação comum, nódulos que levam a um desconforto estético podem justificar uma cirurgia de tireóide



TIPO DE ANESTESIA

A anestesia geral é a utilizada pela grande maioria dos médicos. Poucos serviços utilizam a anestesia local e não foi demonstrado nenhum benefício em relação a anestesia geral, que é mais segura e confortável para o paciente.



TEMPO DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR

É claro que diversos fatores como tipo de cirurgia, complicações clínicas do paciente e evolução pós-operatória  influenciam no tempo de internação. Se não houver nenhum problema, a média de internação é de 1 dia, ou seja, o paciente recebe alta no dia seguinte a cirurgia

ORIENTAÇÕES AOS PACIENTES 

De uma forma geral, a cirurgia de tireóide evolui bem, com raras complicações, mas alguns detalhes devem ser esclarecidos aos pacientes

Pré-operatório


Riscos

Toda cirurgia envolve risco de complicações. Apesar da cirurgia de tireóide ter índice um muito baixo de complicações, aqui serão relatadas as mais importantes que o paciente deverá saber:


- Alterações da Voz: Um a cada 10 pacientes que são operados da glândula tireóide apresentam alguma alteração temporária na voz, enquanto que 1 em cada 250 pode evoluir com alterações definitivas. Isto ocorre devido a proximidade da glândula com os nervos responsáveis pelos movimentos das cordas vocais. Estas mudanças na voz podem ser rouquidão, dificuldade em alcançar notas agudas ou cansaço ao falar que normalmente regridem em algumas semanas, mas que podem perdurar por vários meses. A recuperação vocal é melhorada com fonoterapia através da orientação de uma fonoaudióloga.


- Hematoma: É uma  complicação temida pelos cirurgiões pois pode por em risco a vida do paciente. Apesar da grande preocupação do médico para que não haja sangramento no pós operatório, pode ocorrer um acúmulo de sangue no local operado (hematoma), podendo levar a dor e dificuldade de respirar. Esta é uma condição que tem de ser avaliada imediatamente pelo cirurgião, que pode decidir reoperar em caráter de urgência.


- Hipocalcemia: Junto a glândula tireóide, existem as glândulas paratireóides, que em geral são em numero de 4. Elas são responsáveis pela produção de um hormônio (PTH) que regula o nível de cálcio no sangue.
Após uma tireoidectomia, pode haver uma diminuição temporária ou definitiva da função destas glândulas levando a queda dos níveis de cálcio no sangue(hipocalcemia). Felizmente, é muito raro ocorrer uma deficiência definitiva na função que é chamada de hipoparatireoidismo definitivo e quase sempre estão associados com a tireoidectomia total.
O paciente pode apresentar como sintomas formigamentos nas mãos, nos pés, ao redor dos lábios e nas orelhas que podem evoluir para câimbras. O tratamento consiste em receber grandes doses de cálcio e vitamina D. Raramente estes sintomas ocorrem em tireoidectomias parciais


- Cicatriz: Todo corte sobre a pele produz cicatriz. Contudo, dificilmente as cicatrizes de tireoidectomia produzem cicatrizes com mau resultado estético, pelo contrário, são normalmente discretas.
O tamanho da incisão cirúrgica varia de 2 a 15 cm, dependendo do tamanho da tireóide, aspectos anatômicos do paciente, tipo de cirurgia e da experiência  do cirurgião em realizar incisões pequenas.

      Cicatriz pequena (2cm)                                                    Cicatriz média (4cm)

Fotos de pacientes do Dr Ricardo Cotta com 2 meses de pós-operatório

As cicatrizes hipertróficas, popularmente chamadas de quelóides, são cicatrizes mais grossas, endurecidas e avermelhadas. Fatores como predisposição racial (japoneses), localização no corpo (tórax),  complicações na ferida cirúrgica (infecções) e aspectos técnicos  cirúrgicos  estão implicados neste tipo de complicação. 
A exposição solar deve ser evitada diretamente sobre a cicatriz por um período de até 4 meses após a cirurgia. Isto pode ser conseguido com o uso de de protetores solares (Mínimo FPS 30) e visam um melhor resultado estético da cicatriz

Preparo no hipertireoidismo

A condição ideal para se realizar o tratamento cirúrgico do hipertireoidismo e quando se obtém o controle dos níveis hormonais com o uso de medicação antitireoidiana e beta-bloqueadores. Esta situação pode requerer meses de preparo. Além disso, alguns cirurgiões administram altas doslândula torna-se menos sangrante e mais fácil de manipular.

Pré-operatório


Riscos

Toda cirurgia envolve risco de complicações. Apesar da cirurgia de tireóide ter índice um muito baixo de complicações, aqui serão relatadas as mais importantes que o paciente deverá saber:

- Alterações da Voz: Um a cada 10 pacientes que são operados da glândula tireóide apresentam alguma alteração temporária na voz, enquanto que 1 em cada 250 pode evoluir com alterações definitivas. Isto ocorre devido a proximidade da glândula com os nervos responsáveis pelos movimentos das cordas vocais. Estas mudanças na voz podem ser rouquidão, dificuldade em alcançar notas agudas ou cansaço ao falar que normalmente regridem em algumas semanas, mas que podem perdurar por vários meses. A recuperação vocal é melhorada com fonoterapia através da orientação de uma fonoaudióloga.

- Hematoma: É uma  complicação temida pelos cirurgiões pois pode por em risco a vida do paciente. Apesar da grande preocupação do médico para que não haja sangramento no pós operatório, pode ocorrer um acúmulo de sangue no local operado (hematoma), podendo levar a dor e dificuldade de respirar. Esta é uma condição que tem de ser avaliada imediatamente pelo cirurgião, que pode decidir reoperar em caráter de urgência.

- Hipocalcemia: Junto a glândula tireóide, existem as glândulas paratireóides, que em geral são em numero de 4. Elas são responsáveis pela produção de um hormônio (PTH) que regula o nível de cálcio no sangue. 
Após uma tireoidectomia, pode haver uma diminuição temporária ou definitiva da função destas glândulas levando a queda dos níveis de cálcio no sangue(hipocalcemia). Felizmente, é muito raro ocorrer uma deficiência definitiva na função que é chamada de hipoparatireoidismo definitivo e quase sempre estão associados com a tireoidectomia total.
O paciente pode apresentar como sintomas formigamentos nas mãos, nos pés, ao redor dos lábios e nas orelhas que podem evoluir para câimbras. O tratamento consiste em receber grandes doses de cálcio e vitamina D. Raramente estes sintomas ocorrem em tireoidectomias parciais

- Cicatriz: Todo corte sobre a pele produz cicatriz. Contudo, dificilmente as cicatrizes de tireoidectomia produzem cicatrizes com mau resultado estético, pelo contrário, são normalmente discretas.
O tamanho da incisão cirúrgica varia de 3 a 15 cm, dependendo do tamanho da tireóide, aspectos anatômicos do paciente, tipo de cirurgia e da experiência  do cirurgião em realizar incisões pequenas.
As cicatrizes hipertróficas, popularmente chamadas de quelóides, são cicatrizes mais grossas, endurecidas e avermelhadas. Fatores como predisposição racial (japoneses), localização no corpo (tórax),  complicações na ferida cirúrgica (infecções) e aspectos técnicos  cirúrgicos  estão implicados neste tipo de complicação. 
A exposição solar deve ser evitada diretamente sobre a cicatriz por um período de até 4 meses após a cirurgia. Isto pode ser conseguido com o uso de de protetores solares (Mínimo FPS 30) e visam um melhor resultado estético da cicatriz

Preparo no hipertireoidismo

A condição ideal para se realizar o tratamento cirúrgico do hipertireoidismo e quando se obtém o controle dos níveis hormonais com o uso de medicação antitireoidiana e beta-bloqueadores. Esta situação pode requerer meses de preparo. Além disso, alguns cirurgiões administram altas doses de Iodo (Lugol) previamente à cirurgia com o intuito de facilitar o procedimento, pois a glândula torna-se menos sangrante e mais fácil de manipular.

Pós-operatório


Náuseas e vômitos

Alguns pacientes que passam por uma anestesia geral, podem sentir náuseas ou vômitos depois da cirurgia. Normalmente estes sintomas ocorrem no dia da cirurgia e tendem a melhorar bastante no dia seguinte, após uma noite de sono. 
         Medicações para náuseas e vômitos (anti-eméticos) são prescritos de rotina e em horários regulares para que o paciente não sinta estes desagradáveis sintomas.

 

Dor

A tireoidectomia é uma cirurgia que apresenta um pós-operatório pouco doloroso, porém é comum sentir uma sensação de garganta inflamada por até uma semana após a cirurgia. A cada dia que passa espera-se uma melhora gradual.

Tosse

Os pacientes freqüentemente apresentam tosse no período pós-operatório devido a manipulação da traquéia e por inflamação das cordas vocais pela intubação durante a anestesia geral. Este sintoma tende a regredir espontaneamente e medidas como inalação e xaropes podem aliviar os sintomas.

Alimentação

Não há restrições alimentares específicas para a cirurgia de tireóide. O paciente pode sentir um pouco de dor ao engolir no dia da operação, recomendando-se uma dieta leve.  No dia seguinte , este incômodo é bem menor e normalmente está liberada uma dieta geral,  respeitando-se as restrições de antes da cirurgia, como dieta para diabéticos e  hipertensos.

Curativo

A incisão de tireoidectomia fica coberta por um curativo de micropore. Este curativo é formado por pedaços de micropore e tem uma tripla função: 
- proteger a incisão de bactérias e sujeiras
- servir como pontos falsos auxiliando no resultado estético da cicatriz 
- proteger do sol, que é um dos grandes inimigos de uma boa cicatrização

O paciente sai do hospital com este curativo, que só será retirado e/ou trocado no retorno da cirurgia, no consultório , após 7 a 10 dias. Durante este período, quando o paciente for tomar banho, pode molhar o curativo, devendo secar com uma toalha ou secador de cabelo após o banho.

Reposição Hormonal

Não há pressa para se iniciar a reposição de hormônios tireoidianos pois o nível de levotiroxina demora a cair da circulação sanguínea. Estes hormônios poderão ser administrados imediatamente ou alguns dias depois da cirurgia

Dúvidas frequentes - perguntas e respostas


A glândula tireóide faz engordar ou emagrecer?

    A crença de que quem tem doença de tireóide engorda ou emagrece deve ser esclarecida. De maneira geral, portadores de hipotireoidismo tendem a ganhar peso, e portadores de hipertireoidismo tendem a perdê-lo, devido às alterações das taxas de metabolismo corpóreo que essas doenças causam. Porém, há diversos graus de alterações da produção de hormônios, que nem sempre refletem no peso do indivíduo. Pacientes com hipotireoidismo discreto podem não perder peso, e pacientes com hipertireoidismo podem ter grande aumento do apetite, vindo até a ganhar peso. Além disso, desde que não haja interferência na produção de hormônios, a presença de nódulos não causa alterações de peso. E quando o hipotireoidismo ou o hipertireoidismo estiverem tratados, o peso tende a se estabilizar. Assim, indivíduos submetidos a tireoidectomias não necessariamente irão ganhar peso, uma vez que terão controle hormonal adequado com o  acompanhamento médico.
Ainda assim, apesar de que a obesidade é uma doença muito freqüente na população, e nem sempre está relacionada a problemas de tireóide, indivíduos que têm grandes ganhos ou grandes perdas de peso devem procurar atendimento médico especializado, não só para investigação de doenças tireoidianas, como também para tratamento desta condição mórbida.


As doenças da Tireóide afetam a voz?

   Raramente. O hipotireoidismo é uma condição clínica que pode levar em alguns casos a rouquidão e alterações no timbre da voz (voz mais grossa).
O câncer de tireóide, principalmente nos estágios iniciais, dificilmente leva a rouquidão. Somente casos avançados costumam levar a alterações na função das cordas vocais


As doenças da tireóide causam dor no pescoço?

   A grande maioria das doenças tireoidianas não causam dor, mas algumas condições podem causar. A tireoidite subaguda (chamada de DeQuervain) é uma doença relativamente incomum que pode, em seus estágios iniciais, causar dor cervical na região da tireóide, e a tireoidite aguda (infecção bacteriana da tireóide, doença raríssima) também causa dor.  Nódulos que apresentem rápido crescimento (em geral devido a sangramento intranodular) podem apresentar dor localizada.
     O câncer de tireóide não costuma causar dor, apenas em estádios mais avançados.
   A tireoidite de Hashimoto, que é a doença tireoidiana mais comum e causa hipotireoidismo, não causa dor, pois, apesar de ser um processo inflamatório da glândula, é extremamente lento e crônico.
    De qualquer forma, as dores oriundas da glândula tireóide costumam ser localizadas na região da glândula, e são muito menos freqüentes do que outras doenças que causam dor no pescoço (como doenças de coluna ou aumento inflamatório de linfonodos cervicais).


O hipotireoidismo é comum?

    O hipotireoidismo é extremamente comum e estima-se que acometa cerca de 5 milhões de brasileiros. Muitas pessoas não sabem que apresentam a doença porque seus sintomas são confundidos com cansaço, desânimo e sintomas de stress.
Uma pesquisa mostra que a incidência de hipotireoidismo entre as mulheres brasileiras é a mais alta do mundo, chegando a 12,3%, sendo que apenas um sexto sabe de sua doença  O hipotireoidismo pode ser encontrado em homens e mulheres. Sua incidência aumenta com a idade, sendo sete vezes mais freqüentes nas mulheres, principalmente após os 50 anos.

Como se trata o hipotireoidismo?

   O hipotireoidismo é tratado através da reposição do hormônio tireoidiano,  que é a levotiroxina. Progressivamente os sintomas irão desaparecer com o uso contínuo do medicamento. Esta melhora é lenta e gradual e mesmo com o desaparecimento dos sintomas, a reposição hormonal não deve ser interrompida, senão o hipotireoidismo retornará.
    A reposição com a levotiroxina não atua na causa do hipotireoidismo,  já que é mais simples corrigir o efeito da falta de produção hormonal do que estimular a glândula a produzi-los novamente


O tratamento do hipotireoidismo é para o resto da vida?

   Como o hipotireoidismo é decorrente de uma situação quase sempre irreversível da diminuição da produção de hormônios pela tireóide, normalmente, a reposição hormonal é necessária por toda a vida.


Qual a melhor opção de tratamento? 

    Diversos fatores vão nortear a decisão de seu médico sobre o tipo de tratamento que melhor se adapta a cada paciente. O método inicial de tratamento é o medicamentoso, e a terapia com iodo radioativo é em geral a opção mais utilizada como tratamento definitivo. Pacientes crianças, adolescentes, com bócios muito volumosos ou com nódulos são mais tendentes ao tratamento cirúrgico.


Por que tratar o hipertireoidismo é difícil e muitos pacientes abandonam o tratamento? 

     O tratamento medicamentoso para o hipertireoidismo pode necessitar a administração de muitos comprimidos por dia e por tempo prolongado, pois os efeitos do hormônio tireoidiano são duradouros e necessitam muitas vezes vários meses de tratamento para se obter o controle da doença.  Muitos pacientes abandonam o tratamento por dificuldade de tolerar o uso de tantos  medicamentos e seus efeitos colaterais.


Posso viver sem a glândula tireóide após sua retirada cirúrgica?

   Sim. Os hormônios produzidos pela glândula podem ser substituídos pelos análogos sintéticos presentes em alguns medicamentos. Todo hormônio que era produzido pela glândula, deverá ser tomado através de comprimidos, sem que haja qualquer prejuízo para a saúde do indivíduo.


A radioterapia e a quimioterapia são usadas para o câncer de tireóide?

    Raramente. O câncer de tireóide normalmente é pouco responsivo a estes tratamentos, mas algumas vezes são indicados em tumores avançados de tireóide.


As chances de cura são boas?

   Sim, cânceres de tireóide em estágios iniciais tem chance de cura maiores que 90%. Diversos estudos revelam que pacientes submetidos a tratamento de câncer bem diferenciado de tireóide tem até 95% de chance de estar vivos após 20 anos. Os pacientes que não apresentam boa evolução normalmente recorrem precocemente. Pacientes com metástases cervicais não tem uma chance maior de morrer pela doença.


Vou ter vida normal após o tratamento do câncer de tireóide?

   Sim. Conforme já dissemos, as chances de cura são ótimas. Só será necessário a reposição hormonal sempre acompanhada pelo médico Endocrinologista ou Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Esta reposição não traz limitações para as atividades cotidianas e apresenta poucos efeitos colaterais.

Como é o tratamento com Iodo radioativo?

    Quando o médico indica o tratamento com Iodo radioativo este só acontece após a cirurgia de tireoidectomia total. É necessário que o paciente esteja em hipotireoidismo e portanto só ocorrerá após cerca de 30 dias que o paciente está sem reposição hormonal tireoidiana. Há também uma rigorosa dieta a ser seguida e também é necessário evitar contato com qualquer substância que contenha Iodo em sua composição.
       Para o tratamento é necessário internação hospitalar de 3 dias em regime de isolamento porque após a ingestão da dose de iodo radioativo, são necessárias medidas para evitar a contaminação ambiental e de  pessoas  próximas, pois a radiação é eliminada pela pele, urina e fezes.
     Felizmente este tratamento apresenta poucos efeitos colaterais e em geral são  bem tolerados. Sensações como alteração do paladar e inflamação nas glândulas salivares podem ocorrer.


O câncer de tireóide é hereditário ? Qual a sua causa?

      Aproximadamente 5 a 10% dos casos de câncer de tireóide tem história semelhante na família. O carcinoma medular de tireóide pode esta associado a uma síndrome genética com forte componente hereditário familiar, chamado Neoplasias Endócrinas Múltiplas (NEM) .
A principal associação de câncer de tireóide esta em pacientes que recebram radiação em suas glândulas tireóides. No desastre de Chernobyl e após a bomba de Hiroshima, apresentaram anos depois, uma incidência muito aumentada de câncer de tireóide nestes locais, principalmente em crianças.   


Como posso saber se tenho câncer de tireóide?

    Procure um médico Endocrinologista ou um Cirurgião com experiência neste tipo de cirurgia que avaliarão sua tireóide pela palpação e exame de ultra-sonografia para checar se você não apresenta nódulos tireoidianos. Se estes forem encontrados, pode ser necessário realizar um exame de punção aspirativa por agulha fina (PAAF), que é a melhor forma de triar se um nódulo é maligno ou não.


Vou ter vida normal após o tratamento do câncer de tireóide?

    Sim. Conforme já dissemos, as chances de cura são ótimas. Só será necessário a reposição hormonal sempre acompanhada pelo médico Endocrinologista ou Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Esta reposição não traz limitações para as atividades cotidianas e apresenta poucos efeitos colaterais.





O texto acima foi extraído dos sites oficiais da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP). Foram realizadas modificações no layout e estrutura do texto, mas mantido o mesmo conteúdo técnico.